Mausoléu da dinastia otomana Husseinite, que governou a Tunísia por mais de dois séculos, tem mais de 160 túmulos de mármore, distribuídos “por categoria” em várias salas. A mais interessante e a das favoritas do sultão.
Como bem disse Glória Kalil, em seu Viajante Chic, brasileiro não lê, brasileiro pergunta. Ela se referia a placas e avisos. Concordo plenamente, mas, em alguns casos, só mesmo perguntando uma vez, duas vezes ou quantas forem necessárias.
Se você quiser conhecer o Mausoleu Torubert El Bey, que fica dentro da El Medina, em Túnis, provavelmente terá de agir como um brasileiro típico. Parar, pelo menos, umas quatro vezes para perguntar como chegar lá. As ruas parecem um labirinto e, por mais que você tente, não dá para encontral o endereço sozinho (aliás, a referência que temos é que ele fica na rua Toubert El Bey. Ajuda?).
Quando fomos lá, tivemos sorte. Uma das pessoas a quem perguntamos (acho que já era a terceira) era justamente um rapaz que estava indo abrir o mausoléu e que, como éramos as únicas visitantes no horário, funcionou também como uma espécie de guia turístico e nos contou a história do monumento.
Para você se situar, o Tourbet El Bey é o mausoléu da dinastia otomana Husseinite, que governou a Tunísia por mais de dois séculos. Foi construído durante o reinado de Ali Bey II (1759-1782). São mais de 160 túmulos de mármore de quase todos os governantes da dinastia, de seus familiares, ministros, militares de alta patente e das favoritas do rei.
São várias salas ou quartos que abrigam os túmulos “por categoria”. Há a sala com os túmulos dos reis, das rainhas, dos ministros e militares de alta patente e, o mais interessante, das favoritas do sultão. Os túmulos dos homens trazem, além de epitáfios em placas de mármore que variam de tamanho, uma espécie de chapéu otomano ou um turbante de mármore, que sinaliza a “patente” do morto ali enterrado. Já os das mulheres, coitadas, uma plaquinha simples de mármore com a identificação.
O interior todo é muito bonito, embora meio sinistro. As paredes dos pátios são decoradas com azulejos de faiança policromada e as abóbodas dos quartos também são trabalhadas. Logicamente, o quarto com decoração mais rica, com paredes recobertas parcialmente com mármore trabalhado, é o que abriga os reis ou governantes.
Ao passar de um aposento para outro, nos deparamos com um que tinha no centro um túmulo suntoso, cercado de outros bem mais modestos, como são os da ala femina que tínhamos visto atrás. Perguntado sobre o que significava, o nosso “guia” nos disse que o sultão ali enterrado tinha tanto apreço por suas amantes, que pediu para ser enterrado lá, ao lado delas, e não na sala dos reis. Detalhe: os túmulos são alinhados, a partir do túmulo principal, pelo grau de preferência do rei por cada uma delas. Quanto mais “favorita” era a morta, mais pertinho do túmulo do rei seus restos foram enterrados. Algumas, que dó!, ficaram bem distantes…
